quarta-feira, 7 de abril de 2010

O medo do coletivo, parte II,


Dando continuidade ao texto abaixo, revelo mais algumas peculiaridades que só quem anda de ônibus ou já andou alguma vez na vida, compreende. Avaliem estes outros pontos e digam-me se não tenho plena razão.
1- Ainda no quesito abominações, não posso esquecer do povo tipicamente brasileiro: deixa tudo para em cima da catraca. Eu como alguém de bom coração, deixo meu dinheiro o máximo de bem trocado e já guardadinho separadamente no bolso mais próximo. Mas existem umas ‘tias’, porque sempre são mulheres as mais atrapalhadas, que bem na boca da roleta querem sair catando sua passagem dentro das maiores bolsas.
Perda de tempo. Acúmulo de pessoas na porta. Esse tipo de coisa devia ser cronometrado. Não achou o vale em 20 segundos? Desce, cão!
2- Na parte de desorganização não tem como não reclamar. Sinto que existe as vezes um clima de micareta dentro do ônibus. Vários malas que unem-se no meio do carro e impedem quem quer sair ou entrar. Todomundosuperjuntinhoeassimvenceremos parece que predomina. Reforma agrária já! Nada de aglomeração na frente e vazio atrás. Vamos aprender a distribuição igualitária de corpos.
3- Felicidade excessiva também é igualmente irritante. Adolescentes são bons nisso, de ficarem na parte do fundão do veículo batucando cadernos e rindo alto como se o melhor da vida fosse compartilhar momentos dentro do ônibus. Talvez seja, mais eu tenho minhas dúvidas.
Zoada, assovios e cantorias deveriam ficar destinadas somente para os transportes que carregam grupos de bumba meu boi ou escoteiros.
4- Os supostamente necessitados. ‘Boa tarde meus caros amigos. Eu podia tá roubando, mas estou aqui pedindo de coração uma ajudinha para comprar comida para a minha mãe que foi esfolada viva por um cachorro, meu pai que nasceu sem os dois olhos e meu filho que sofre de problemas nas pernas.’ Chato, né? Inconveniente, né?
Também acho. Sei, as vezes caio na lábia e dou uns trocados, digo até que realmente prefiro os pedintes falantes do que aqueles que chegam vendendo bagulhos. Nada pior do que está super distraído e de repente jogarem uma bala em formato de coração no seu colo. Quase pulei da janela umas duas vezes tamanho o susto que tomei.
Mas enfim, é isso mesmo. Pegar os coletivos é algo intrigante ee recomendo que quem nunca experimentou deve experimentar isso uma vez ou outra. Pois irão se deparar enormes aventuras e momentos especiais/divertidos/confusos da vida.

O medo do coletivo


Explorando um pouco as minhas ‘anormalidades’ confesso hoje que tenho uma relação intensa de amor e ódio com os ônibus. Digo entre tapas e beijos porque desde que me entendo por gente isso era uma coisa que não sabia o que era.
Mais nas minhas novas experiência com esse tipo de tranporte pode perceber a parte afetuosa da coisa se dá pelo fato de que dentro dos ônibus que me levam de lá para cá, costumo ter instantes de autoconhecimento pleno.
Sei lá, podem ser as paisagens, as pessoas desconhecidas, as paradas demoradas ou o fato de não ter que conversar com ninguém que me leva a aproveitar cada minuto deste passeio para dar uma revisada na minha mente, nos meus objetivos, crises existências e elaboração de deliciosas fantasias.
Olhando pela janela eu me sinto ao mesmo tempo parte da sociedade e dentro de um mundo apenas meu. Obviamente que tudo isso só é possível se o veículo tiver certas condições. Não digo ar-condicionado, cadeiras acolchoadas ou nada do tipo. Vento na cara sempre foi um dos meus maiores baratos.
Falo sobre pequenas frescurinhas que fazem toda a diferença entre andar de ônibus e ser parte do elenco de “A morte pede carona”. E olha, são muitos detalhes mesmo. Vou tentar resumir ao máximo nos tópicos abaixo.
1- A parada: O início de tudo. Claro que para ter as minhas ‘grandes’ revelações durante a viagem, eu preciso subir no ônibus. Tarefinha nada fácil, principalmente se certos horários forem levados em conta. Entre 19:00 e as 22 horas é praticamente IMPOSSÍVEL conseguir pegar o maldito ônibus e se estiver em algum lugar e tiver que pegar esse meio de condução no horário das 18hs nussa, assentos disponíveis e uma possibilidade quase 0% de achar. Mas o pior de tudo isso neste quesito é ser surpreendida por um motorista sacana.
A raça é normalmente distinguida por aqueles que fazem duas coisinhas bem peculiares. Primeiro: Para atrás de outro carro e quando você sai correndo para alcançá-lo, ele dobra para a pista e vai embora. O segundo é de trincar os dentes de ódio. É o cidadão atrás do volante que te vê acenando o bracinho e acelera em disparada adiante.
Nessas horas vale tudo. Xingar o infeliz em alto e bom som para que terceiros na parada ouçam, torcer para que o automóvel capote mais na frente ou, a que eu faço melhor, disfarço e passo a mesma mão que tava balançando, nos cabelos.
2- A modinha dos terminais: Ultimamente meus pensamentos perdem o fio da meada porque simplesmente algum idiota decidiu que TODOS os ônibus devem parar nestes locais. Não digo parar de deixar uma leva de passageiros e buscar outros, mas de realmente forçar todo mundo a descer para que cobradores e motoristas tenham 10 minutinhos de descanso.
Sim, eles também merecem,...Sei que estou sendo egoísta, mas não gosto de descer onde não é meu ponto de chegada. Irrita. Muito.
3- Janelas estrategicamente mal colocadas: Amo brisa. Venero sentir o sol na minha cara depois de passar horas e mais horas trabalhando em um ambiente que faz o Pólo Norte parecer o Caribe. Por isso que fico tão mal humorada quando percebo que a linha que eu peguei só possui aquelas janelas superiores.
Sem lógica. Aquilo ali não ventila ninguém e deixa o ambiente terrivelmente abafado.
4- Seres humanos: Ah, minha agonia eterna. São tantas reclamações que não sei por onde começar. Mas, ‘hey ho, let’s go’. Primeiramente tenho que criticar a carência excessiva.
Estou lá de boas dentro do ônibus. Quase sem ninguém e com outros 15 ou 20 lugares disponíveis. De repente entra aquele tipo de pessoa que você já sabe que deve ter o estilo de abraçar semi-desconhecidos na balada perguntando ‘cê é meu abigo?’ quando bêbado. E senta justamente do meu lado. Nussa e começa Roçando o cotovelo a cada momento no meu braço.
Fúria total nessas horas. Se já não gosto de contato físico forçado quando o coletivo está lotado, imagine o que vem de forma voluntária por parte de terceiros. Assim não da.
Sem contar naqueles carinhas que tentam puxar assunto te chavecando e você doida para chegar o momento de um dois dois descerem para poder se livrar logo do antipático.
Ainda neste ponto, vez ou outra somos passiveis de termos um companheiro de poltrona com
narcolepsia . É de dar angustia, o cidadão vem como não quer nada de olhinhos fechadinhos encostando vagarosamente no meu ombro. Cada freada é uma balançada de cabeça brusca ao estilo ‘onde estou?’ e ‘quem sou eu?’.
Quer dormir? Caia no sono nas cadeiras solitárias. Não crie suspense como se fosse babar, roncar e usar meu ombro de travesseiro.
Tá bom, parei. Texto ficando enorme e ainda falta muito mais. Aguardem as cenas dos próximos capítulos.

Nossos reais sentimentos


“Nas telas ou na vida real, Valentino sorria raramente e mal. Quando nos lembramos de Garbo, seu traço principal também era a tristeza. Ocorre perguntar se é ocasional esse elemento comum aos dois maiores mitos suscitados pelo cinema. Ambos são expressões da paixão amorosa, e envolvidos pela melancolia, testemunham que a nossa civilização persiste em fazer do amor algo essencialmente triste”.

O parágrafo acima, dito pelo crítico de cinema, Paulo Emílio Sales, sintetiza bem algo que vejo como um dos maiores problemas da humanidade quando se trata de relacionamentos: Somos os reis do drama.
Shakespeare difundiu isso, Machado de Assis também, assim como os autores da incansável fábrica da teledramaturgia. Inconscientemente desde cedo aprendemos que amar é um sinônimo natural para a palavra sofrer.
Padecemos ao sairmos do útero, ficamos desolados ao largamos o seio materno, piora tudo quando deixamos o conforto do lar para a escola e assim por diante.
Acreditamos que o tempo todo existe uma força maior no universo que rege para que as coisas boas não durem para sempre e por isso torna-se mais confortável vestir a carapuça do ‘ó vida, ó céus’ ao longo dos anos.
Fazemos isso em diversas áreas. Ao odiarmos as manhãs das segundas-feiras antes de acordar, na hora de apresentarmos um trabalho que já achamos que foi mal feito ou ao sentimos a dor da anestesia antes mesmo do dentista aplicar. Mas, quando se trata de amor aí sim é que a coisa fica complicada.
Elaboramos enormes barreiras para que nada possa fluir em liberdade. Precisamos do controle, de saber como será o dia seguinte e o outro também.
Imaginamos que não estamos agradando suficiente, que o resto das pessoas são ameaças e compramos livros que dão detalhes sobre como conseguir ter sucesso nos relacionamentos.
Ansiedade, insegurança, dor e medo. Nada disso deveria ser relacionado com a sensação de estar apaixonado.
O ruim é que gostamos. Todo mundo é exemplo de ‘mulher de malandro’ neste departamento.
Sai-se de um caso para o outro como se fossemos mocinhos de novela que não conseguem nunca alcançar um final feliz por culpa da vilania da vida em si.
Dramas não são necessários e é totalmente ilógica a busca por eles. Teme-se tanto furacões, terremotos, vulcões e outras forças da natureza justamente por não sermos capazes de calcular o grau de destruição.
Porém, em termos de relações amorosas fazemos questão de pedir ou criar um tormento assim.
Sinceramente? Não sei como atingimos oito bilhões de pessoas neste planeta.